PATRÍCIA VIDEIRA
Escola de Comércio de Lisboa | Docente
O dia-a-dia nas escolas é pautado por algumas situações de violência, conflitos e episódios clínicos que expressam níveis de ansiedade elevados, transformando a escola num local privilegiado para a análise das questões relativas à saúde mental dos jovens. O “pânico” deverá assim funcionar como um trampolim para uma análise sistémica sobre estas questões da saúde mental e do bem-estar dos jovens.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a saúde metal pode ser entendida como um estado de bem-estar que permite aos indivíduos lidar com as pressões diárias de uma forma positiva, potenciando todas as suas capacidades intelectuais e emocionais. Contudo, em alguns cenários escolares verificam-se sinais de desesperança e dificuldades em lidar com conflitos, refletindo a urgência de encarar, estudar e definir estratégias de promoção do bem-estar, da resiliência e autorregulação dos adolescentes. Saber quem serão os adultos do futuro e que comportamentos irão manifestar ao nível emocional é uma questão tão importante como aquela relativa às competências técnicas que terão, pelo que pensar no meio escolar de forma integral não é possível se não colocarmos a saúde mental no centro dessa análise.
Estudos recentes revelam que a nível nacional e internacional há um aumento considerável dos problemas de saúde mental entre os jovens, que poderão ter um impacto bastante significativo no surgimento da perturbação mental na idade adulta. Para além disso, a promoção da saúde mental na escola contribui significativamente para a melhoria da ligação entre a escola, família e comunidade, na diminuição do absentismo e do abandono escolar, na diminuição da violência, bem como na melhoria dos resultados dos alunos. À escola cabe assim, criar ambientes que promovam a aquisição de competências escolares e socio-emocionais, de modo a promover o autoconhecimento e a adoção de estilos de vida saudáveis, bem como sinalizar jovens em risco do ponto de vista da saúde física e mental.
Com base no modelo Social and Emocional Learning (SEL) poderemos verificar que promover a saúde mental depende do desenvolvimento de algumas competências nos alunos, entre as quais o autoconhecimento, a autogestão, a consciência social, a promoção de relações interpessoais baseadas no trabalho de equipa, bem como no desenvolvimento de processos de tomada de decisão baseados em informações recolhidas e a total noção dos riscos a assumir.
Próximo das competências definidas no SEL, está o modelo de pessoa definido no Projeto Ser da Escola de Comércio de Lisboa e que visa criar alunos Conscientes, (sobre si, sobre as suas emoções, sobre as necessidades dos outros), Competentes (que tomam decisões baseadas em informação e reflexão, assumem riscos e executam responsavelmente), Colaborativos (em que o trabalho de equipa e as relações interpessoais estão no centro da sua ação), Comprometidos (para com a vida em comunidade, nas organizações, bem como para com o seu percurso pessoal) e Criativos (com capacidade para avaliar as várias alternativas e encontrar novas soluções).
Nunca a problemática Razão/Emoção ganhou tanto espaço no debate das questões pedagógicas. Ser, Pensar, Agir, Emocionar, Decidir, Criar, são todas elas dimensões do Eu, que nunca poderão ser trabalhadas de forma isolada, cabendo à escola definir estratégias que permitam ao indivíduos desenvolvê-las de forma saudável e sustentável.