Tiago Quaresma
Fábrica de Conservas da Murtosa | Diretor da COMUR
Se nos dispusermos a um breve raciocínio de analepse em torno dos últimos vinte anos no setor do retalho são chocantes as evoluções que constatamos. Da comunicação com clientes, passando pelos meios de pagamento, sem esquecer os meios de entrega e os seus prazos, tudo mudou drasticamente e a uma velocidade impressionante.
O comércio tal como o conhecíamos já não existe e os ventos desta mudança não abrandarão nem inverterão o seu sentido. Cabe-nos, pois então, interpretar o significado desta evolução.
O Retalho moderno, chamemos-lhe assim, acentua todos os dias a clivagem entre o consumo por necessidade e o consumo por prazer. Se no primeiro a globalização está a todo o momento a conquistar mais terreno, simplificando as nossas vidas, libertando-nos de horas desperdiçadas em supermercados, no segundo dificilmente algum dia entrará. E é aí que se encerra “A” grande oportunidade.
Como quase sempre acontece em movimentos de expressão global, o seguidismo instalou-se e à escala mundial existe um frenesim de busca por soluções mais rápidas e eficazes, que facilitem ainda mais todo o processo de consumo. Ainda bem que assim é, os consumidores agradecem. Contudo, enquanto “ramo de negócio”, tem o problema de estar inundado de concorrência.
A um país como Portugal apresenta-se, no atual estado das coisas, uma oportunidade ainda melhor: a Re-Humanização do Retalho.
É no segundo segmento do comércio – o que o consumidor faz por prazer – que existe o negócio mais interessante. Não é tão óbvio, nem tão fácil, mas tem infinitamente mais valor acrescentado. Na era global todos necessitamos de sentir o local, o que tem identidade e é, de alguma forma, único. O Retalho-Experiência é provavelmente o maior veículo para nos conectarmos ao singular e genuíno, de contactar com seres humanos, de recuperar a magia de um bom vendedor que mais não é do que um bom contador de histórias. É na sensibilidade do Homem, que a máquina jamais terá, que residirá o segredo do futuro do retalho.
O nosso país poderá ter uma palavra relevantíssima neste novo modelo, porque quando toca a pessoas, a saber receber e a contar histórias, somos os melhores do mundo.