PATRÍCIA VIDEIRA
Escola de Comércio de Lisboa | Docente
A violência escolar não é um fenómeno recente, contudo trata-se de um assunto que atualmente tem merecido especial atenção, por parte de jovens, pais, professores e sociedade em geral, pelo impacto que poderá ter ao nível das emoções, do desenvolvimento e saúde mental dos jovens. Segundo Urra (2007) (4), a violência física ou psíquica entre estudantes começou a ser investigada nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e nos países nórdicos nos princípios dos anos 70 e foi designada como bullying.
O termo bullying foi introduzido por Dan Olweus (1993) (2) quando pesquisava sobre tendências suicidas em jovens adolescentes. Segundo este autor, os casos de bullying verificam-se quando um aluno está a ser provocado/vitimado de forma repetitiva e negativa, ao longo do tempo, por um ou vários alunos, caracterizando-se em vários tipos, nomeadamente verbal, social (exclusão e isolamento por parte da vítima), físico, moral (difamação, calúnia), material (extorsão de bens) psicológico, racial, sexual e virtual. O autor refere que este tipo de pressão social conduz ao surgimento de traumas e de emoções negativas que condicionam o bem-estar dos alunos. As raparigas estão mais expostas ao bullying indireto e os rapazes ao bullying direto, sendo que por bullying direto entende-se as agressões físicas, que incluem bater e empurrar, enquanto o bullying indireto se refere às ofensas de carácter verbal, como insultar, lançar boatos, que levam ao isolamento social.
Existem três categorias distintas de crianças envolvidas em situações de bullying, nomeadamente os agressores (bullies), as vítimas passivas e aqueles que são simultaneamente vítimas e agressores. No que diz respeito à caracterização destas categorias de indivíduos, as vítimas são tendencialmente jovens inseguros, introvertidos, com baixa auto estima, pouco assertivos, com elevada ansiedade, enquanto os agressores são extrovertidos e seguros de si próprios. Nos jovens que desempenham ambos os papéis, poderemos encontrar características dos dois grupos.
As vítimas dividem-se em vítimas passivas e vítimas provocadoras, sendo que as primeiras caracterizam-se como inseguras, ansiosas e com uma visão negativa de si e as segundas por diversos padrões de reação, nomeadamente ansiosos e agressivos, apresentando problemas de concentração, irritação e alguns comportamentos hiperativos. Os agressores são fortes e precisam de dominar os outros. Apresentam pouca empatia pela vítima, têm uma visão positiva acerca deles próprios, normalmente repetem o ano, apresentam um rendimento escolar baixo e têm dificuldade em seguir o ritmo de aprendizagem. Costumam ser os mais fortes da turma, sendo-lhes, neste caso, atribuída uma superioridade dentro do grupo (Olweus, 1993). Os agressores sentem-se infelizes na escola, têm atitudes positivas para com a violência, ou seja, sentem que é através dela que conseguem a atenção dos outros, têm poucos amigos e algumas dificuldades em criar novas amizades (Carvalhosa, Lima & Matos, 2001) (1).
O bullying, trata-se assim, de uma experiência que afeta inúmeros estudantes em todo o mundo e de um problema social bastante complexo, na medida em que pode provocar consequências negativas sérias tanto nas vítimas como nos agressores. Perante estes factos, surgem algumas questões às quais não podemos deixar de dar resposta, nomeadamente de que modo poderemos intervir sobre esta problemática.
Como forma de prevenir e de intervir ao nível do fenómeno do bullying, Trautmann (2008) (4) apresenta três tipos de programas de intervenção. O primeiro centra-se exclusivamente no indivíduo e em processos de aprendizagem social. Contudo, apesar de alguns resultados positivos, esta intervenção não reduziu o problema do bullying nas escolas. Outro tipo de intervenção baseia-se no currículo, através do qual os conteúdos e as atividades desenvolvidas na escola deverão promover a aquisição de competências sociais e de valores contrários aos veiculados no bullying. Por último, este autor realça que a razão para que os programas anteriores não tenham obtido os resultados esperados, prende-se com o facto deste fenómeno resultar de um processo sistémico, sendo pouco provável que a intervenção apenas numa das partes do problema conduza a alterações significativas no comportamento dos indivíduos.
Apenas a intervenção integrada ao nível dos indivíduos intervenientes, famílias, currículos, estratégias pedagógicas poderá conduzir a uma mudança efetiva nas atitudes e formas de interagir com o outro. Para tal, alunos, professores, escola, família, amigos, comunidade, cultura, e o modo como estes sub-sistemas interagem entre si, deverão constituir os eixos de análise de uma intervenção sistémica do bullying.
- Carvalhosa, S., Lima, L. & Matos, M. (2001). Bullying – A provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, 4 (XIX), pp. 523-537.
- Olweus, D. (1993). Bullying at school. Oxford: Blackwell.
- Trautmann A. (2008). Maltrato entre pares o “bullying”. Una visión actual. Revista Chilena de Pediatria, 79 (1). Pp. 13-20.
- Urra, J. (2007). O pequeno Ditador, Atmosfera dos Livros, pp.324-329.